No mundo da aviação militar para a grande maioria e
também os menos atentos o grande foco das atenções sempre são as aeronaves mais
rápidas, potentes e tecnologicamente mais sofisticadas, e algumas coisas dignas
de nota costuma passar despercebidas.
O conflito do Vietnã mostrou que o lendário F-4
Phantom fruto da filosofia então vigente de interceptador não corresponderia às
expectativas de seu desempenho e sofisticação naquele exótico cenário.
Um inteceptador como o Phantom era desenhado para decolar
e ganhar o céu tão rápido quanto possível, alcançar cinquenta a sessenta mil
pés de altitude em velocidade supersônica e então localizar e destruir os
grandes e pouco manobráveis bombardeiros estratégicos inimigos se aproximando
da área continental dos Estados Unidos ou de seus navios porta-aviões utilizando
mísseis de emprego além do alcance visual.
As deselegantes estatísticas do Phantom contra os
pequenos e manobráveis MiGs do Vietnã do norte acenderam uma luzinha vermelha
nas cabeças pensantes da comunidade de aviação de caça dos Estados Unidos. Uma
das consequências disso foi o "Projeto Barão Vermelho III" como ficou
conhecido um extensivo trabalho de análise dos encontros aéreos no sudeste
asiático no pós-guerra, cobrindo algumas centenas de engajamentos decisivos nos
quais aeronaves norte americanas ou nortes vietnamitas e até mesmo de ambos os
lados foram perdidas.
Entre os números do Projeto Barão Vermelho III uma
aeronave conseguiu um destaque interessante, o F-8 Crusader permitiu que seus
pilotos conseguissem abater 19 MiGs enquanto que apenas 3 F-8 foram perdidos
para aeronaves inimigas conseguindo uma razão vitória derrota de 6,3 para 1, o
melhor desempenho entre as aeronaves de combate dos EUA naquele conflito,
ganhando o carinhoso apelido de "Migmaster".
No período entre 1964 e 1969, pilotos de Crusader
abateram dezesseis MiG-17 e três MiG-21, o F-8 era armado com quatro canhões de
20 mm e
dois mísseis AIM-9 Sidewinder orientados por infravermelho. Quinze destes MiGs
foram destruídos por mísseis Sidewinder, dois MiGs foram danificados por
mísseis e então destruídos por fogo de canhão dos Crusaders. Assim apenas dois
dos dezenove MiGs abatidos pelo Crusader foram atribuídos somente aos canhões
de 20 milímetros.
O Que fez do Crusader tão excepcional?
Muitos consideram que naquela época, o Crusader era
verdadeiramente o único caça de superioridade aérea no arsenal inteiro dos EUA,
e os pilotos de Crusader da Marinha orgulhosamente referiam se a si mesmos como
"Os últimos caçadores canhoneiros". Numa época em que as aeronaves de
combate saiam de fabrica sem armas de cano em detrimento dos mísseis, a
mentalidade de interceptador e a falta de canhão destruíram o desejo de
praticar manobras de combate aéreo tanto na Força Aérea quanto na Marinha e os
canhões do Crusader fizeram toda a diferença, não como a arma mais importante,
mas a necessidade de deixar seus pilotos aptos a empregá-los.
Os canhões foram pouco utilizados no combate real, mas
o fato de os carregarem incluía em seu adestramento o treinamento em tempos de
paz que mantinham seus pilotos proficientes em manobras de combate aéreo.
Treinamento realístico de combate aéreo geralmente é
mais importante que a desempenho da aeronave em dogfight, e os pilotos de
Crusader receberam mais treinamento de combate aéreo que qualquer outro grupo
de pilotos. No geral as manobras que conduzem ao posicionamento de disparo dos
canhões, são as mesmas que colocavam seus caças dentro dos melhores parâmetros
de disparo dos mísseis Sidewinder das gerações empregadas no Vietnã.
As variáveis abordadas
pelo Projeto Barão Vermelho III incluíam o prévio tempo de voo dos pilotos, sua
experiência de combate, nível de treinamento ACM, idade e posição na formação
no momento do engajamento. Os resultados do estudo mostraram que os fatores que mais definitivamente influenciaram o resultado dos
engajamentos decisivos foram:
(1) o prévio treinamento ACM dos
pilotos e...
(2) a posição do piloto na esquadrilha
(formação) que em situações de guerra depende do nível de experiência.
O Projeto Barão Vermelho III incluíam
entrevistas com os pilotos participantes dos engajamentos analisados, Quando
questionados sobre quais foram os principais fatores que contribuíram para a
habilidade de alcançar uma postura ofensiva em um encontro ar-ar, as duas principais
respostas foram:
(1) Treinamento e experiência e
(2) Alerta e detecção.
Depois do conflito do Vietnã nenhum
outro país investiu tanto no preparo e treinamento de seus pilotos quanto os
EUA.