segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Seria o Su-30K uma ameaça para o Gripen C/D?



Su-30Ks de Angola não serão uma grave ameaça aos Gripens da Força Aérea Sul-Africana!


Postado por Darren Olivier em 12 de julho de 2015 em Destaque 

Um artigo no Netwerk24 afirmou que a recente compra de Su-30K por parte da Angola constitui uma ameaça grave para a segurança e capacidades de poder aéreo da África do Sul. Embora isso possa gerar alguma consideração e reflexão, um contra-argumento em resposta a esta afirmação é detalhado abaixo.

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O combate aéreo moderno não fica mais em torno apenas do desempenho bruto, trata se da interação de um complexos sistema de sistemas, que em conjunto tomam parte no grande jogo. Pilotos de caça não estão mais preocupados apenas com dogfight, modos básicos de radar e mísseis de curto alcance, mas sim com o malabarismos de um conjunto complexo de interferidores e sistemas de guerra eletrônica (EW), data link tático, modos de operação radar discretos e mísseis que são muito mais avançado do que há apenas alguns anos.






Se olharmos para a situação da Força Aérea Sul Africana (SAAF) , existem algumas lacunas claras que precisam ser preenchidas:

1) A falta de uma aeronave de Alerta Aérea Antecipado (AEW) adequada.

2) A falta de plataformas de reabastecimento em voo.

3) A falta de um míssil com capacidade além do alcance visual (BVR).


O primeiro pode ser contornado pelo uso de um único Gripen no papel AEW alimentando com dados de radar outros Gripens atacantes que operam avançados no modo de nariz-frio EMCON, com todos os sensores de transmissão ativas desligados. O Gripen tem um impressionante pequeno RCS, tornando-o difícil de detectar a menos que o Su-30K estejam varrendo o céu com seus radares na potência máxima, o que os tornam vulneráveis ​​à detecção à partir de longe pelos sistemas EW do Gripen.


O segundo é um problema, que pode ser contornado em parte pela forma como o Gripen foi projetado para ser fácil de manter e operar longe das bases principais, mas é uma lacuna que, idealmente, deve ser preenchida. Sem ela, o Gripen tem um raio de combate entre 800 km - 900 km  com mais de 30 minutos em estação de patrulha, adequados para a maioria dos cenários de defesa, mas que teria muito mais flexibilidade em cenários de missão que pudessem ser estendidos  por reabastecimento em voo.


Finalmente, A falta de um míssil BVR é temporária e pode ser corrigida rapidamente se a necessidade que já era prevista de aquisição do MBDA Meteor em conjunto com treinamento e reciclagem necessários aos pilotos da SAAF. Como seria natural, eu esperaria uma compra de mísseis BVR dentro dos próximos cinco anos, uma vez que é parte do roteiro de atualização do Gripen visto como um recurso necessário.


Finalmente, a doutrina. Por várias razões, os angolanos permitiram que sua força aérea perdesse grande parte da especialização que ganhou na década de 1980 e com ela a sua capacidade de manter-se com os últimos desenvolvimentos na doutrina técnica do poder aéreo. A SAAF, por outro lado, tem o Centro de Desenvolvimento do Poder Aéreo e ainda coloca muita ênfase em atualizações técnicas e treinamento quanto permitidos pelos recursos financeiros. Este foi destacada pelo excelente desempenho de dois pilotos do Esquadrão em combate dentro do alcance visual no exercício Lion Effort, onde também foram aprendidas valiosas lições em termos de combate BVR eficaz.


Finalmente, começando a partir do próximo ano, os Gripens serão armado com o A-Darter, um míssil ar-ar de curto alcance extremamente capaz que é melhor do que os R-73 que equiparão os Su-30 angolanos. É quase sem fumaça, muito difícil de se interferir ou ser atraído por iscas e tem um alcance de pelo menos 20 km, com boa capacidade de manobra terminal. Nesse ínterim eles carregam o igualmente impressionante IRIS-T, adquiridos como um solução tampão até que o A-Darter entre em produção.


Então, vamos caminhar por um possível cenário no qual por algum motivo quatro Gripens  SAAF tenham que enfrentar Su-30 angolanos. Vamos supor um início em altitudes iguais, uma situação hostil na qual as regras de engajamento permitirem um primeiro tiro em aproximação de distâncias equivalente. Nós assumiremos que não há radares terrestres envolvidos, embora estes seriam um fator em jogo numa situação real.


A tática


A primeira coisa a SAAF deveria fazer é enviar um único Gripen D para o alto perto de seu teto de serviço por trás das linhas, com o seu radar em potência total criando um quadro tático antecipado para a formação de  quatro Gripen C via data link. Os Gripens da SAAF podem voar em uma formatura bem espaçada dividida em dois elementos , proporcionando uma boa separação para os seus sensores de guerra eletrônica e a capacidade de iniciar um movimento de pinça, se necessário. Os pilotos SAAF deverão ajustar constantemente posicionamento para garantir que eles não estão saindo fora do guarda-chuva de proteção radar do Gripen D voando em papel AEW


Tática baseada no controle de emissões (silêncio eletrônico) explorando o baixo RCS e 
vantagens táticas do emprego do data-link.

Os Su-30K de Angola serão equipados com o relativamente antigo radar N001 NIIP Myech, que apresenta uma convencional antena cassegrain direcionada mecanicamente com algumas das sutilezas eletrônicas que vieram em variantes posteriores. Como resultado da sua idade e uso generalizado, este radar tem sido muito bem estudado e as suas capacidades são conhecidas. Por um lado, ele pode detectar um alvo de 1 m² - 3 m², entre 80 km - 100 km, dependendo do perfil de voo e quando a plena potência. O Gripen C tem um RCS frontal ideal de 0,1 m², tornando se mais alto dependendo do ângulo, então vamos considerá-lo como tendo um RCS de 0,5 m² para ser justo ao descontar exageros de marketing. Para simplificar mais as coisas, o alcance de detecção que Su-30K para um alvo como o Gripen  na melhor das hipóteses, cairia para o intervalo de distâncias entre 40 km - 50 km  e o alcance de rastreio cairia para algo em torno de 15 km - 20 km.

Alvo de pequeno RCS como o Gripen degradam as capacidades de alcance 
mesmo grandes radares como o N001 NIIP Mvech, por outro lado, 
 o grande RCS das versões mais antigas do Flanker é uma grande desvantagem para esta aeronave.  

Note também que os suecos vêm desenvolvendo e customizando os sistemas do Gripen para lidar com as novas geração Sukhois e MiGs desde o início, como um resultado existe uma séria capacidade nos sistemas de radar e guerra eletrônica de bordo.


Por outro lado, o radar PS-05 / A do Gripen, que neste cenário estaria a 50 000 pés, dizem ser capaz de adquirir uma aeronave do tamanho do Su-30K a 120 km e rastreá-lo para uma solução de tiro em uma distância não muito menor que esta. E no momento em que o Su-30K aparecer no radar, a informação é imediatamente enviada para os quatro Gripen C voando à frente o que lhes permite usá-lo para lançar mísseis Meteor ou Marlin. Como eles estariam a cerca de 60 km de distância dos Flankers e fora de seu alcance de detecção e a todo tempo com seus radares desligado não serão visto até o momento do lançamento dos mísseis.


Em outras palavras, dadas as capacidades atuais, além da aquisição de um míssil BVR, os pilotos Su-30K iria receber avisos de lançamento de mísseis antes que eles pudessem ver um única aeronave lançadora. Eles seriam capazes de detectar o Gripen D no papel AEW, mas estariam longe demais para fazer qualquer coisa sobre o Meteor que tem uma boa probabilidade de abate para um míssil de longo alcance, abatendo os quatro Flankers.


Este é um cenário, sem as atualizações Mk4 e Mk5 do radar PS-05, que duplicam os alcances de detecção e aquisição. Também ignora o uso do sistema de guerra eletrônica do Gripen capaz de interferir no N001, que é bastante eficaz contra o N001 que não tem um espetacular pico de potência de  transmissão.


Claro, este é um cenário artificial, e omite muitas das complexidades e variáveis envolvidas, mas mesmo assim é um olhar preciso que podemos fazer por meio de dados de conhecimento público sobre as capacidades relativas doa Gripens de nova geração do SAAF contra a velha geração de Su-30K angolanos. Se falássemos das últimas geração Su-30 com radares AESA e melhores subsistemas defensivos o quadro mudaria drasticamente, mas este não é o caso.


O Su-30K também tem vantagens de desempenho sobre o Gripen em um duelo aproximado, mas estes são atenuados pelo transporte de mísseis IRIS-T ou A-Darter de grande ângulo off-boresight associados aos capacetes HMDS Cobra que permitem que os pilotos disparar mísseis do Gripen em alvos em qualquer direção, inclusive diretamente atrás de seus aviões.


Resumindo, esta aquisição por parte da Angola não é a ameaça que inicialmente parece ser. Nem os angolanos pretendem que seja, como eles parecem querer usar seu Su-30K da mesma maneira que eles usaram suas Su-27, por sua capacidade de cobrir vastas distâncias e montar ataques aéreos de longo alcance em Angola. Sem dúvida, eles achariam esta discussão no mínimo confusa.

Conclusões

Darren Oliver o autor do artigo acima, acredita que que o dinheiro investido pela Angola nesta aquisição não é suficiente para uma grande modernização destes S-30, isto reflete em sua baixa estimativas sobre a capacidade destes Flankers que anteriormente foram adquiridos pela Índia em 1998/1999 depois devolvidos à Russia em 2007, algumas fontes sugerem que estas aeronaves foram recusadas pela Índia devido a defeitos de fabricação e estavam desde então estocadas a céu aberto, e em decorrência disto, em mau estado de conservação,  Outras fontes sugerem que estes Flankers receberão um pacote de redução RCS, que afetariam as informações trazidas por Oliver. Pouco tem sido falado sobre seu pacote eletrônico.

Oliver supõe que os Su-30 angolanos serão equipados com o radar N001 NIIP Mvech normalmente encontrados nos antigos Su-27, Caso os angolanos tenham adquirido radares mais modernos haverá certo impacto nas conclusões de Oliver. O gráfico abaixo da Air Power Austrália, mostra o alcance de alguns dos sistemas de armas BVR de fabricação russa mais modernos em função do RCS de seus alvos: 



Gráfico de alcance para sistemas de armas BVR russos (em milhas) em relação ao RCS do alvo,
 neste gráfico vemos o Su-30MKI/MKM utilizando o radar NIIP N011 M BARS (fonte www.ausairpower.net/)




De acordo com o gráfico acima, contra alvos de RCS de 0,1m² a 0,5m² e as informações dadas por Oliver, podemos construir a seguinte tabela comparativa:

-------------------------------------------------------------------
                            |  RCS     |   RCS     | RCS    
Radar - alcance de busca    | 0,1m²    |  0,3m²    | 0,5m²    
----------------------------------------------------------------
NIIP Irbis-E     (Su-35BM)  |90nm/167Km|103nm/190Km|117nm/216Km
NIIP N011M BARS  (Su-30MKI) |42nm/77Km | 48nm/88Km | 55nm/101Km
NIIP N001        (Su-27/30) |21nm/40Km |           | 26nm/50Km
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Caso os Flankers angolanos sejam equipados com o radar NIIP N011 não modernizados, os Gripen C sul-africanos só conservam vantagem caso do RCS esteja mesmo abaixo dos 0,3m², ou terão que recorrer ao uso de contra-medidas eletrônicas, equipamentos não utilizados no artigo de Oliver.

Glossário

A-Darter - Míssil ar-ar de curto alcance desenvolvido inicialmente pela Africa do Sul em que tem hoje o Brasil como parceiro na finalização do projeto. 

AESA - Active Electronically Scanned Array / Radar de varredura eletrônica ativa: Nova tecnologia de radares com alto nível de sofisticação e grande número de recursos em relação à geração anterior de varredura mecânica.

AEW - Airborne Early Warning / Alerta Antecipado aerotransportado (alerta aéreo antecipado): Consiste em uma aeronave de médio ou grande porte que transporta um potente radar e estações de controle aéreo para gerenciamento de batalha, devido ao fato de poder carregar um radar de grande potência e posicioná-lo em grande altitude, permite alertar sobre ameaças antes de qualquer outro sistema eletrônico do campo de batalha.

BVR - Beyond visual range / Além do alcance visual, combate ou sistema de armas com capacidade de atingir alvos aéreos além do campo visual do piloto.
data link  / conexão de dados: sistema de comunicação que troca informações digitais, como dados de radar, posicionamento e etc.

dogfight / briga de cães - Nome dado aos combates aéreos de curta distância na arena de combate visual.

EW - Electronic Warfare / Guerra elentrônica

HMDS - helmet-mounted display sights / Visor de exibição montado no capacete.

IRIS-T -  Infra Red Imaging System - Tail/Thrust Vector-Controlled / Sistema de imagem infra vermelho - calda / controlado empuxo de vetorado. Um míssi de curto alcance orientado por infravermelho de projeto europeu liderado pela Alemanha.

Marlin - Míssil BVR de orientação por radar ativo sendo desenvolvido pela Africa do Sul.

MBDA Meteor - Míssil BVR de orientação por radar ativo fabricado pela empresa MBDA.

off-boresight / Fora do "eixo boresight" (ou eixo longitudinal da aeronave/míssil), capacidade de disparar armas (mísseis) contra alvos em grandes ângulos em relação a extensão frontal do eixo longitudinal (direção do nariz) da aeronave, ou do míssil quando este está no trilho de lançamento e seu eixo longitudinal está paralelo com o de sua nave mãe.

RCS - Radar Cross Section / Seção reta radar - índice ou medida da superfície refletora radar de determinada aeronave, também conhecida não muito adequadamente como assinatura radar de uma aeronave.

R-73 - Míssil de curto alcance orientado por infravermelho de fabricação russa.
Silêncio eletrônico - postura discreta de voo na qual todos os sistemas eletrônicos ativos como radar ou interferidores eletrônicos ficam desligados para evitar a detecção por parte do inimigo.

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