domingo, 14 de dezembro de 2014

Israel e um exemplo tático na arena de combate eletrônica



No último 07 de dezembro (2014), a Força Aérea de Israel efetuou uma série de ataques aéreos cirúrgicos dentro da Síria, alguns deles de forma bem ousada, e as imagens de seus F-15 em plena luz do dia deixando atrás trilhas de condensação serpenteando o céu foram capturadas em vídeo e correram o mundo. 


Imagem do céu sírio no 7 de dezembro (2014), 
as trilhas de condensação à direita são dos dois F-15 israelenses, 
os rastros à esquerda são de mísseis Buk.

De acordo com relatos, Uma esquadrilha de F-15 entrou no espaço aéreo sírio naquele dia as 16:00 h (horário local) em grande altitude e alta velocidade em uma formatura bem aberta dividida em dois elementos, um a frente de outro mais atrás, os dois membros de cada elemento também guardavam uma considerável separação entre eles.





Esta é uma formatura poderia ser descrita como mais uma variação da conhecida "Four ship Box" (algo como quatro aeronaves em caixa ou simplesmente caixa), esta formatura tem várias vantagens defensivas no aspecto ar-ar pois permitem uma boa vigilância visual entre seus membros e fornece espaço para manobras defensivas de apoio mútuo entre a formação. A Box e bem adequada para missões de ataque ar-superfície, mas neste caso exploraremos seu papel tático na arena de combate eletrônica.



A Formatura "Box" exibida aqui está fora de escala, a separação entre as duas aeronaves do 
primeiro elemento (a frente) seria de umas duas milhas; 
a distância entre o primeiro e o segundo elementos seria bem maior, 
cerca de oito milhas ou mais.


Os caças israelenses certamente estavam emitindo forte interferência eletrônica para evitar radares de defesa da Síria capazes de rastreá-los desde longas distâncias. Sistemas de defesa aérea de fabricação russa tem meios de lidar quando atacados por sofisticados sistemas de interferência, incluindo aqueles operados pela Síria. Mesmo que os sistemas sírios tenham suas capacidade de rastreio comprometidas nesta situação, ainda poderiam acompanhar o azimute e elevação da fonte de sinais da interferência recebida em seus receptores, embora isto seja feito com uma margem de erro considerável.


Caso os F-15 não estivessem emitindo interferência eletrônica de bloqueio, 
os operadores de radar sírios veriam quatro pontos claros e distintos em 
suas telas de radar podendo escolher quais atacar.

Os dados conseguidos por meio de orientação por interferência poderiam fornecer indicações para os sensores óticos de baterias de mísseis sírios, permitindo a seus operadores dispararem na direção dos intrusos, além destes estarem obviamente bem visíveis como visto nas imagens.

O maior espaçamento utilizado na formatura dos F-15 israelenses tinha a finalidade tática de sobrepor as margens de erro do rastreamento de suas emissões interferentes, degradando ainda mais a consciência situacional daqueles sistemas de defesa dando menor precisão sobre a posição de seus alvos por meios eletrônicos. Com isto os israelenses ganharam tempo para chegar mais perto de seu objetivo e efetuar a aquisição de seus alvos.


A interferência eletrônica de bloqueio em conjunto com a formatura box 
criam um borrão na capacidade de localização dos contatos no radar, 
aumentando a incerteza do disparo de míssil. 

Mesmo sob evidente dificuldade, baterias de mísseis Buk-M2 sírias posicionadas no aeroporto de Mezzeh lançaram dois mísseis na direção do primeiro elemento israelense, em resposta os dois F-15 mudaram de direção.

Em disparos de longa distância, sistemas de mísseis superfície-ar de médio alcance tentam otimizar sua interceptação com trajetória de perseguição adiantada na tentativa de prever a posição futura a frente do avião alvo calculando a trajetória balística necessária para atingi-lo naquele ponto. Na última fase de seu voo, o míssil usaria seu próprio sistema de busca. Uma mudança significativa de direção de seu alvo poderia fazer com que o míssil não encontrasse a aeronave alvo na região prevista, e eventuais atualizações produzidas pelo auxílio da bateria estariam, como visto acima, bastante degradadas devido a interferências.
O perfil de engajamento dos mísseis SAM 
também foi explorado taticamente pelos israelenses. 
Devido a limitações de seu sensor o míssil não encontra o alvo no 
ponto para o qual foi direcionado

O primeiro elemento de F-15 depois de atrair os mísseis para outra posição logo curvaram para o norte e lançaram suas armas que atingiram uma pequena pista de pouso chamada Al Sharai em Dimas na região oeste de Damasco, e logo em seguida efetuaram uma forte guinada para oeste retornando para os céus libaneses.

Não muito atrás, o segundo elemento já tinha entrado na Síria. A dupla de F-15 se aproximou em direção a Damasco, e desta vez a bateria Buk-M2 aparentemente ficou a espera de mudanças de comportamento de seu alvo ou sua aproximação.

Estes F-15 lançaram suas armas do tipo stand-off e logo depois fizeram uma forte guinada para o sul. mais dois mísseis superfície-ar ganharam o céu, e de acordo com os relatos, os rastros indicavam se tratar do modelo SA-3, estes mísseis não seguiram os caças israelenses mais sim suas armas recém disparadas.


Suposta imagem do SA-3 interceptando um míssil Popeye.


Um dos SA-3 teve exito em atingir seu alvo, e logo os destroços de um míssil Popeye caíram do céu. O Popeye é um enorme míssil ar-superfície do tipo stand-off , apenas a 
sua ogiva pesa mais de 300 Kg de explosivo. Seu sistema de orientação é inercial com ajustes de pontaria por imagens em infravermelho utilizado contra alvos em distâncias de até 50 Km do ponto de lançamento.


Destroços do míssil Popeye isralense interceptado.

Os mísseis que atravessaram a defesa antiaérea síria atingiram veículos e suprimentos no aeroporto internacional de Damasco.

A utilização de Popeye, ao invés de armas mais sofisticadas como a Spice sugere a necessidade de identificação de alvos em loco e em tempo real neste bombardeio cirúrgico possivelmente contra alvos móveis capazes de abandonar o aeroporto rapidamente.

Os riscos de ataque diurno em uma altitude que deixava trilhas de condensação certamente foram forçados por uma pequena e bem específica janela de oportunidade. Um ataque bastante ousado pois tais aeronaves ficaram expostos a outras ameaças como mísseis de curto alcance e artilharia anti aérea.


O primeiro elemento do ataque deixa o espaço aéreo sírio.

Testemunhas informaram que depois do ataque mais um elemento de F-15 manteve uma orbita na região por cerca de 30 minutos, possivelmente para atacar eventuais alvos sobreviventes.


Perfil de um F-15I do 69° Esquadrão de Caça da Força Aérea de Israel 
mostra um míssil Popeye sob sua asa esquerda.

Comenta-se que o alvo seriam mísseis S-300 recebidos pela Síria que seriam posteriormente repassados por terra ao Hezbollah no Líbano, pessoalmente acho um exagero, mas pela importância dada por Israel é algo a se pensar.



Conclusões 

Pelo lado israelense:

- Tem sido mostrada uma capacidade considerável no campo da guerra eletrônica permitido incursões em seus vizinhos com total impunidade.

- A eletrônica tem sido fortalecida pelo desenvolvimento e prática no ramo tático.

- Estão tentando a todo custo evitar que novos sistemas de mísseis sejam introduzidos ao seu redor.

Pelo lado sírio

- Tanto o Buk quanto o SA-3 foram ineficiente contra os F-15 israelenses.

- O SA-3 demostrou certa capacidade de interceptar grandes mísseis como o Popeye

Glossário:

elemento: (1) Formação de duas aeronaves de caça, o elemento é a unidade mínima da aviação de caça. Sua organização administrativa é dividida entre a aeronave (ou piloto) "líder" e a aeronave (ou piloto) "ala". Lead e Wingman em língua inglesa.
elemento; (2) Unidade mínima da aviação de caça formada por duas aeronaves trabalhando em equipe. Dois elementos podem ser unidos em uma formação de quatro aeronaves para formar uma esquadrilha.

Formação - Conjunto de aeronaves voando agrupadas sob o mesmo comando com a mesma missão, na aviação de caça a formação mínima é o elemento, composto por duas aeronaves.

Formatura - É a disposição espacial na qual uma formação de aeronaves voa. Você pode "quebrar" a formatura para algum propósito tático, mas a formação é mantida. 

SAM - Surface Air Missile / Míssil superfície-ar - Míssil lançado da superfície (solo ou mar) contra um alvo no ar.






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