domingo, 16 de novembro de 2014

Tática exclusiva para o Tomcat

Matéria sobre a utilidade tática de uma característica "particular" do F-14 Tomcat para dogfights publicada no site "The Aviationist:


Um Tomcat na catapulta do convés de um porta-aviões momentos antes do lançamento, enflechamento mínimo e máxima envergadura, em segundo plano outros F-14 com enflechamento máximo que reduz significativamente as dimensões e arrasto aerodinâmico deste enorme interceptador naval.

F-14 Tomcat


Desenvolvido na década de 1960 como um avião de combate (caça) multi missão, a principal missão do F-14 Tomcat era proteger os Grupos de Batalha de Porta-aviões (CVBG) da Marinha dos EUA de eventuais ataques realizados pelos bombardeiros soviéticos armado com mísseis de cruzeiro de longo alcance.

Em uma sortida típica, a aeronave manteria uma estação de patrulha de combate aéreo localizada várias centenas de milhas do porta-aviões. As vantagens de raio de ação e permanência em patrulha do Tomcat foram alcançados graças a suas asas de geometria variável, que foram o maior desafio de engenharia no desenvolvimento do F-14, como explicado para "The Aviationist" por um leitor muito especial.




"Uma das características mais distintivas e memoráveis do F-14 Tomcat foram suas asas de geometria variável" , diz Dave "Bio" Baranek, autor do livro "Dias de Top Gun: Dogfighting, enganando a morte e ganhando as glórias de Hollywood, com um dos melhores e mais atléticos caças da América" e a experiência de vinte anos como oficial de interceptação radar (RIO) do Tomcat.


Três protótipos do F-14 posam para foto mostrando 
três configurações diferentes de enflechamento das asas.

Bio explica que a posição das asas do F-14 eram controladas por "um microprocessador, conhecido como o computador Central Air Data Computer (CADC) — primeiro microprocessador do mundo (projetado e desenvolvido por Steve Gaeller e Ray Holt de 1968-1970 para o F-14A Tomcat).

Como explica Baranek, as asas de geometria variável trouxeram várias vantagens para o Tomcat: em sua posição à frente com enflechamento de 20 graus (o ângulo do bordo de ataque da asa), permitiram que o F-14 tivesse uma velocidade de pouso relativamente baixa, uma consideração importante para operações seguras de um porta-aviões. Com o aumento da velocidade, elas automaticamente se voltam para trás com base no indicador do número de Mach (IMN) para uma posição totalmente enflechada 68 graus, reduzindo o arrasto para o voo de alta velocidade " (e também para reduzir a envergadura para movimentação de aeronaves e armazenagem – Bio disse-nos que no convés do porta-aviões asas poderiam ser enflechada à 75 graus em uma posição chamada "oversweep").

O enflechamento das asas do F-14 também pode ser modificado manualmente, ainda que, de acordo com Baranek, o piloto do Tomcat teria que considerar fatores importantes: o piloto poderia mover as asas manualmente para trás além da posição determinada pelo CADC, mas não para a frente de tal posição, já que isto poderia causar danos estruturais devido o enorme arrasto que iria gerar. Mover manualmente as asas para trás pode confundir um adversário, dando um falso indicador de velocidade do ar do F-14. Mas também fornece menos sustentação e menos capacidade de manobra, por isso era uma "tática" ou truque que deveria ser usada com muito cuidado."

Esta última afirmação é confirmada pelo próprio Bio que recorda exclusivamente para o Aviationist, o conto do piloto de um Tomcat que esqueceu a asa votadas para trás em uma furball no simulador de F-14.

"Uma vez no simulador de F-14 (que se chamava 2F112), completamos nosso trabalho planejado e ainda tinha tempo de sobra, então nós estávamos brincando. Um ótimo piloto estava voando nele, não me lembro do RIO, e eu estava na console do controle. O piloto queria tentar sair de um parafuso chato acionando o controle manual de emflechamento com as asas recolhidas para trás. Não me lembro se ajudou, mas depois que ele fez isso algumas vezes ainda tínhamos algum tempo, então ele disse, "Deixe-me combater um MiG-21."

O operador configurou o simulador e começaram um dogfight. Após cerca de dois minutos, o piloto disse, "Wow, este é o melhor MiG-21 que eu já vi, devia ter matado ele agora!"

Então olhei para uma tela que mostrou uma visão externa do F-14 e disse aos outros no console de controle: "Olha, ele ainda tem as asas recolhidas para trás!" Eles não conseguia conter o riso e disseram-lhe, "Verifique seu enflechamento de asa!" O piloto colocar asas em Auto e o engajamento terminou logo depois disso com uma abate feito pelo Tomcat."Além de ser um Oficial Naval do vôo, Baranek completou suas atribuições como instrutor Top Gun na escola de elite "Fighter Weapons School " da Marinha (baseado em Miramar Naval Air Station), portanto, também teve sua chance de ver como a asa de enflechamento variável do F-14 poderia ser usada como uma vantagem durante um dogfight real, também contra aviões mais manobráveis.


Um Tomcat persegue um T-38 em combate aéreo simulado nas aulas práticas da Top Gun. 
O treinador T-38 Talon simulava o MiG-21, depois o Talon foi substituído por sua versão de combate F-5 Tiger nos esquadrões agressores para o papel de adversário.

Em particular, Bio recorda de um episódio envolvendo um aviador Naval voando seu salto de graduação 1 vs 1 contra um instrutor de Top Gun voando aeronave adversária muito particular.

Antes de contar a história, Baranek explica como um típico vôo de graduação 1 vs 1 ocorre: "para a graduação 1 vs 1 ″ em aula de vôo Top Gun, instrutores, arranjam para os alunos combates contra aeronaves cuja identidade seria desconhecida até a merge quando comceçar o enredo.

Todos brifados contra todos, por isso era legal. Isto foi na década de 1980, e os alunos não sabiam se eles estavam indo enfrentar um A-4, F-5, ou qualquer outra coisa. A configuração era uma interceptação de 30 milhas, então você descobriu a identidade de seu oponente quando você podesse identificar visualmente, talvez a 4 ou 5 milhas antes da merge.
Para manter as coisas interessantes que às vezes providenciou uma aeronave de fora, tais como um QF-86 do centro de teste de mísseis do Pacífico que contaria um piloto para o evento ao vivo ".

Na segunda metade da década de 1980 os operadores de Hornet juntaram-se com seus então novinhos F/A-18, começaram a participar em aulas de Top Gun e alguns deles acreditavam que eles tinham uma vantagem enorme sobre o enorme Tomcat durante um engajamento ar-ar real.


O Tomcat encara o F/A-18 Hornet no convés de um porta-aviões, o Tomcat apresenta suas asas na posição ultra-enflechadas para hangaragem, nesta posição as pontas das asas ficam sobre os profundores. 

"Por volta de 1987, um piloto de F/A-18 veio cursar a Top Gun, e ele ficava provocando os pilotos de F-14s. Ele os chamava de "interceptadores" criticando-os em cada oportunidade que tivesse," diz Bio.

"A maioria dos instrutores neste momento tinham sido pilotos e RIOs de F-14, e eles decidiram dar uma lição nele. Então eles tinham um antigo instrutor participando da graduação 1 vs 1, secretamente, e ele estava voando um F-14A. Este piloto Hornet saiu para seu vôo 1vs1, correu a interceptação, e quando ele se aproximou da merge viu um F-14 com asas totalmente enflechada.

O piloto Hornet penssou, "o F-14 vem a 450 knots ou mais, eu vou vencer." Então na merge ele puxou com força na vertical. O que ele não sabia: o F-14 tinha queimado muito do seu combustível, então estava leve. Além disso, ele só estava desenvolvendo  300 nós. Na merge, quando o Hornet puxou para a vertical, o piloto do do Tomcat selecionou a posição da asa para Auto, acendeu a pós-combustão, e o desempenho máximo se transformou em vertical. Uma vez que o Hornet estava muito mais rápido, o Tomcat acabou atrás na mortal seis do Hornet em uma milha e declarou o "Abate,  Fox 2."


O gato Felix utilizado no simbolo do Esquadrão de Tomcats VF-31 da Marinhas dos EUA
 tira uma onda do F-A-18 Hornet. Hoje, o VF-31 opera o F/A-18E Superhornet.

Após este primeira oportunidade de engajamento para obter o máximo benefício de treinamento conseguiu com um resultado "regular" mas como Baranek recorda " a história foi um grande sucesso em torno de Miramar, que claro foi lar dos F-14 na costa oeste. Também reiterou um dos pontos de ensino principais de Top Gun, que é creditado ao Barão Vermelho: 

"Não é a caixa que faz, mas sim o homem sentado nela!"

Fonte original:
The Aviationist

Leia também:
Top Gun
Como surgiu a mais famosa escola de graduação em combate aéreo.



Conclusões


O combate aéreo de curta distância foi por muito tempo uma competição onde vencia quem administrava melhor a energia, principalmente na época em que as armas eram um canhão ou ele mais as primeiras gerações de mísseis infravermelhos, aqueles restritos à disparos contra o duto de escape do motor a jato do inimigo. Naquela época o que valia era a vantagem posicional, ou você tinha a surpresa a seu favor ou precisaria de um caça muito manobrável somada a grande habilidade no gerenciamento de energia para chegar atrás do seu oponente e não ultrapassá-lo antes de atirar.

O piloto do Tomcat no combate acima usou um artifício para dar uma falsa indicação de seu estado de energia para seu oponente que voava um Hornet, isto destruiu sua capacidade de gerenciamento colocando energia e táticas incompatíveis para aquela disputa posicional, e o piloto do Hornet perdeu o combate. 

A posição das asas do F-14 poderia ser um indicativo visual de seu estado de energia, mas como vimos poderia ser uma observação enganosa. Em minha experiência de dogfights em simuladores de voo no computador contra o MiG-29 notei que existem algumas indicações visuais sobre o estado de energia daquele adversário em particular, quando o piloto do Fulcrun aciona a pós-combustão tentando ganhar energia ocorre um aumento visual significativo em sua trilha de fumaça que se torna mais escura, outro indicador visual é o aparecimento de pequenas trilha de condensação nas pontas de suas asas quando ele aperta sua curva puxando mais Gs, tentando buscar aquela famosa vantagem posicional. Estes indicadores sempre lhe darão uma noção das intenções do seu adversário e orientarão suas decisões.

Outro artificio interessante utilizado para confundir o adversário sobre suas intenções ou sobre a geometria do combate, são as falsas capotas pintadas abaixo da cabine de uma aeronave, que no calor do combate podem gerar aquela pequena confusão que atrasaria o posicionamento do adversário ou o obrigaria a tomar uma decisão equivocada com base em uma interpretação errada sobre suas intenções.


F/A-18 Hornet da Força Aérea Canadense com sua capota falsa 

Já vi argumentos contrários a este tipo de pintura, onde alguém vê uma foto como esta e diz que ela não enganam o mais atento e etc. mas no calor do combate, naquela olhadinha rápida e na pressa da tomada de decisão, aquela capota pode convencer você que ele está curvando em tua direção. Outros dizem que no mundo dos mísseis BVR de hoje não haverá mais dogfights, também é um argumento fraco de mais, ninguém tem controle sobre as variáveis que estarão envolvidas no combate de amanhã, a arena de combate sempre será um lugar confuso, todo mundo está desenvolvendo mísseis de curto alcance cada vez mais sofisticados, hoje todo mundo treina táticas e combates BVR, mas ninguém deixa de treinar dogfihgts, alguém sempre acabará chegando perto de você e é melhor estar preparado para isso!


Demonstrador do Gripen NG com capota falsa.



Glossário:

BVR - Beyond Visual Range / Além do alcance visual, combate ou armas utilizadas em combates de médias a longas distâncias fora do alcance visual do olho humano.

Dogfight / briga de cães - Nome dado aos combates aéreos de curta distância na arena de combate visual.


Merge / "Fusão" - A definição mais antiga da merge dizia que este era o ponto no qual os adversário de um combate aéreo de curta distância faziam o primeiro passe um pelo outro a partir de uma situação de "alto aspecto", sendo assim o início do "dogfight", e este que seria seguida pela luta por vantagem posicional, com um tentando atingir as "seis horas" do outro, para o emprego das armas. Na arena de combate visual moderna dos mísseis "all-aspect", a merge virou uma bolha de cerca de oito a dez milhas (alcance médio de tais mísseis em alto aspecto e identificação do alvo positiva), bem antes de um eventual "primeiro passe", pois o combate visual atual iniciaria no primeiro disparo de mísseis.


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