quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

O primeiro Eurofighter Typhoon abatido foi vítima de um Gripen


"Kill marking" indicando um abate de Typhoon pintada na fuselagem de um MB-339 italiano*.

É claro que o abate foi simulado, mas rouba um pouco da atenção do grande e poderoso Typhoon para o pequeno notável Gripen. Até então o Typhoon era invicto e mesmo o incrível F-22 Raptor já havia perdido para um F-16 Viper.

F-22 Raptor, o primeiro caça de 5º geração a entrar em serviço, tecnologia de ponta custo altíssimo.


F-16 Viper abate F-22 Raptor


Em fevereiro de 2007 o 94º Esquadrão de Caça da USAF operador de F-22 voou para Nellis nevada para fazer a estréia do Raptor na Red Flag. Em um dos combates daquele exercício um F-16 do 64º Grupo Tático Adversário conseguiu derrubar pela primeira vez em um ambiente de guerra simulada o primeiro caça de 5º geração a entrar em serviço, e o F-22 talvez tenha tido sua silhueta pintada na fuselagem de um Viper.



O então Tenente Coronel Dirk Smith (comandante do 94º naquela ocasião) fez uma declaração à revista Airforces Montihly sobre o ocorrido:
"O 57º Grupo de tático Adversário se comprometeu a alguma tática interessante não contida no cenário global de inteligência. Isto envolve ameaça surpresa, geralmente caças da Força Aérea Vermelha, entrando na batalha aérea inesperadamente. A equipe da Força branca [controle de exercício] iria confirmar que a ameaça era Vermelha e Força Aérea Azul [os "mocinhos"] tem que reagir. Um piloto designado para o 64º Esquadrão Agressor conseguiu seu primeiro abate de F-22 na Red Flag. "Pelo menos metade da tripulação do 94º Fighter Squadron tinha menos de 50 horas no F-22 e não importa quão mágico seja o F-22, qualquer piloto pode cometer um erro." A beleza do exercício Red Flag é que nós podemos ir lá e praticarmos nossas táticas em um cenário desafiador, comete-se um erro, aprende-se uma lição, e ficamos mais bem preparados para o combate atual".
Com o passar dos anos, os caças tem sido expostos a mais combates simulados, 
e tem surgido mais "kill marksings" mudo a fora, 
aqui  a silhueta de um F-22 na fuselagem de um EA-18 G Growler 
versão de guerra eletrônica do F/A-18F Super Hornet)
Antes disso, já havia circulado na internet uma imagem do F-22 (supostamente do 27º Esquadrão de Caça) na mira de um F/A-18E ou F, o que gerou muita polêmica, como era apenas uma imagem sem maiores informações sobre como se deu aquela foto de HUD, tudo ficou mais como uma mera curiosidade e um simples troféu para os inimigos virtuais do F-22.
Imagem da câmera do HUD de um F/A-18 E/F flagra um F-22 na mira.
Meros exercícios de treinamento apenas focados em dogfight (combate aéreo a curta distancia) 1 x 1 (um caça contra um outro caça) podem ser iniciados em três configurações diferentes, neutro ofensivo ou defensivo. Uma situação neutra coloca os dois adversários em uma geometria posicional na qual os dois estão em condição de igualdade (desprezando as diferenças entre as máquinas), uma situação inicial aonde ambos vêm para o combate "cara-a-cara" é um exemplo. Nas situações ofensivas ou defensivas, o piloto em treinamento deve mostrar suas habilidades em manter a vantagem caso ele esteja no papel ofensivo, ou tem que se defender de um atacante em suas seis horas (retaguarda) quando no papel defensivo. Quando em um exercício de dogfight como este é feito contra uma aeronave moderna como o F/A-18 Super Hornet em posse de uma vantagem inicial, pode se mostrar um desafio difícil até mesmo para o piloto dentro de um F-22 Raptor.
Em um exercício como a Red Flag onde é simulada uma complexa operação de guerra com muitas aeronaves diferentes com mais adversários em uma situação mais próxima da realidade, as variáveis são muitas e é ai que as coisas inesperadas acontecem, e é lá que uma vitória, mesmo que simulada, ganha uma importância maior. Foi mais ou menos o que os Gripens encontraram na Spring Flag naquele mesmo ano.
Gripen cara-a-cara com o Eurofighter, grande diferença de porte.

Gripen abate Eurofighter


Alguns meses antes a Força Aérea da Suécia não havia perdido nenhum Gripen para os F-15 e F-16 Agressores na Red Flag Alaska, então chegou à vez da Força Aérea Húngara voar para a Itália levando seus recém adquiridos Gripens para o seu primeiro deslocamento internacional participando da Spring Flag 2007.
O Então Coronel Nandor Kilian da Força Aérea Húngara comandante da equipe no exercício relata o evento:
"O objetivo do exercício, "deslocar nossos Gripens além-mar, operar com o mínimo de apoio a partir de uma localização austera, ser interoperável e cooperativo - e expor nossos pilotos a uma situação aérea com grande número de aeronaves. Nós fomos com quatro aeronaves - dois Gripens D e dois Gripens C - mais nós voamos todas as missões operacionais com os D de dois assentos para dar o máximo de exposição a experiência para a nossa equipe de nove pilotos.
O Exercício Spring Flag 2007, realizado na Base Aérea Decimomannu na Sardenha italiana, foi um dos maiores eventos da OTAN envolvendo meios de combate da França (E-3), Alemanha (F-4F ICE), Itália (AV-8B, F-16C, Tornado ECR e Eurofighter Typhoon), OTAN (E-3) e Turquia (F016C). O apoio de guerra eletrônica foi fornecido pela aeronave dedicada Falcon 20 jammer da MEWSG (multi-service electronic warfare support group) da OTAN. As aeronaves tanque eram da Itália, Reino Unido e Estado Unidos da América.
Os Gripens voaram como parte da 'Força Vermelha' (bandidos), conduzindo largamente batalhas aéreas além do alcance visual (BVR) contra a 'Força Azul'.
O Coronel Kilian recorda:
"Nós voamos 24 sortidas no exercício de duas semanas, e nós lançamos todos os dias as duas aeronaves Gripen D planejadas. Nós fomos os únicos participantes que tiveram 100% operacionais com as aeronaves programadas.
Na Hungria nós não temos oportunidade de treinar com um grande número de aeronaves, mas na Spring Flag nós encaramos pacotes COMAO (Operações Aéreas Combinadas) de 20, 25 ou 30 aeronaves. O valor deste treinamento para nós foi o de trabalhar com muitas aeronaves no nosso radar - e mesmo com a nossa limitada experiências concluímos que o radar do Gripen é fantástico.
Nós vimos os outros a grande distância, nós podíamos discriminar todas as aeronaves individuais mesmo em formações apertadas e usando modos estendidos. A interferência eletrônica quase não teve efeito sobre nós – e isso surpreendeu muita gente.
Outras aeronaves não conseguiram nos ver - nem no radar - nem no visual e nós não tínhamos jammers para nos proteger deles. Nós conseguimos um abate Fox 2 contra um F-16 que curvou entre nossos dois jatos e ele nunca viu o segundo cara e foi um tiro perfeito.
Nossas armas e táticas foram limitadas pelas regras da Força Vermelha, e em um exercício com este a Força Vermelha esta sempre mais sujeita a morrer, mesmo sem nossos AMRAAMs e data link nos conseguimos oito ou dez abates. Muitas vezes nós não tínhamos nenhum apoio AWACS ou outro radar de qualquer tipo, apenas com nossos sensores regulares de bordo - mas voando com isto, "caças livres" (autônomos), nós conseguimos três abates em uma tarde. Foi uma experiência muito boa para a nossa primeira saída de casa.”
JAS-39 D Gripen húngaro na Spring Flag 2007.
O interessante é que os Gripens húngaros tenham participado da Força Vermelha no papel de agressores, algumas fontes indicam que eles estiveram lá para ser o componente de capacidade BVR do lado inimigo, pelo declarado pelo Comandante Kilian, o míssil simulado não foi o AIM-120 AMRAAM.
O Typhoon foi uma das 8 a 10 vítimas do Gripen (não sei o motivo da incerteza na quantidade das vitórias, talvez questões de validação de tiro), e eles operaram sem data link e algumas vezes sem apoio de AWACS, ou seja, operaram sem explorar todo seu potencial devido a regras do exercício onde simulavam um caça inferior.
Eurofighter Typhoon italiano na Spring Flag 2007.
Do lado Azul, um dos pilotos de Typhoon o Major Andrea Argieri então com 200h (horas de voo) de Eurofighter, 1000h de F-104 e 800h de F-16, Alegou treinar frequentemente manobras básicas de combate aéreo do tipo muitos contra muitos (4 x 4) e menos frequentemente (1 x 1), (2 x 2). O piloto com mais experiência de Eurofighter no Esquadrão (4º Stormo) tinha 380 horas na aeronave.

Então, tome muito cuidado ao sub-julgar um caça que você eventualmente considere inferior.
Nota: A imagem da "kill markings" no início do artigo foi adulterada por motivo meramente ilustrativo, a foto original contem duas "kill markings, Durante o exercício Starex um treinador MB-339 italiano (no papel de agressor) conseguiu duas vitórias contra o Typhoon, lá as Regras de engajamento muito restritivas permitiram a façanha. Os pilotos do Eurofighter eram obrigados a fazer identificação visual num cenário bogey (aeronave não identificada) sem permissão para engajamento "Hot" (cara-a-cara), o MB-339 usava AIM-9L Sidewinder (all-aspect), e o Typhoon não poderia usar iscas flare, como agravante (naquele combate) eles ainda tinham de lidar com alguns F-16 já identificados como agressores na área. Os pilotos de Typhoon alegaram que naquele exercício, conseguiram tantas vitórias contra o M-339 que a suas fuselagens seriam pequenas para tantas kill markings.

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